Evolução biológica
Duas questões fundamentais:
Como terão surgido os seres multicelulares?
Como terão surgido as células eucarióticas?
Dos procariontes aos eucariontes
Modelo autogénico
Hipótese explicativa para o aparecimento dos eucariontes a partir da evolução gradual de procariontes.
As células eucarióticas surgiram a partir de células procarióticas que desenvolveram sistemas endomembranares a partir de invaginações existentes na membrana plasmática.
Trata-se de uma hipótese pouco aceite pela comunidade científica.
O modelo autogénico não explica a causa nem a forma como se processou a especialização das membranas invaginadas nas células procarióticas.
Modelo endossimbiótico
Hipótese explicativa para o aparecimento das células eucarióticas, a partir células procarióticas, por incorporação de outros procariontes livres e consequente relação simbiótica.
Vídeo - http://highered.mcgraw-hill.com/sites/9834092339/student_view0/chapter4/animation_-_endosymbiosis.html
Argumentos que apoiam o modelo endossimbiótico
A simbiose é um processo muito comum no mundo vivo: - por exemplo: a existência de associações entre bactérias e alguns eucariontes (protozoários que vivem em simbiose com bactérias não têm mitocôndrias, mas realizam respiração aeróbia por intermédio delas);
a semelhança das mitocôndrias e dos cloroplastos com seres procariontes:
- material genético semelhante entre procariontes e eucariontes;
- a forma, o tamanho, as estruturas membranares, os ribossomas, o DNA e o tipo de divisão (independente da da célula) das mitocôndrias e dos cloroplastos são características muito semelhantes às encontradas nas células procarióticas.
O modelo endossimbiótico apresenta algumas lacunas, não explicando, por exemplo, a origem do núcleo das células eucarióticas e a forma como o DNA nuclear gere o funcionamento das mitocôndrias e dos cloroplastos.
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=KRs77NlysQ0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=q71DWYJD-dI
Origem da multicelularidade
Ao longo da evolução biológica, os seres vivos que apresentavam maior tamanho tinham maior hipóteses de sobrevivência.
Quanto maior fosse o organismo unicelular, maior seria a sua capcidade de capturar alimentos.
Mas o aumento progressivo de um organismo unicelular torna-se incomportável em termos biológicos.
Há medida que as dimensões de um organismo aumentam, diminui a sua relação área/volume, ou seja, a sua superfície não aumenta à mesma taxa que o volume.
A verdadeira multicelularidade, apenas presente em seres eucariontes, caracteriza-se por uma associação de células em que há interdependência estrutural e funcional entre elas. Geralmente existe igualmente uma diferenciação celular e tecidular a ela associada.
Em células eucarióticas existe frequentemente uma relação colonial, que pode ser considerada a origem da multicelularidade.
Exemplo: - Colónia de Volvox
Forma uma esfera oca, envolvida numa camada monoestratificada de mais de 1000 células biflageladas. Estas células são somáticas, não intervindo na reprodução. Esta função está reservada a células maiores, que, assexuadamente, se dividem e originam colonias filhas. A reprodução sexuada também é possível.
Assim, nas colónias de Volvox as células são estruturalmente dependentes, mas não há verdadeira diferenciação celular, pelo que não podem ser consideradas seres vivos pluricelulares.
No entanto, admite-se que este tipo de seres vivos coloniais possam ter estado na origem de algas verdes pluricelulares e os argumentos são a existência do mesmo tipo de clorofila, a e b, do amido como substância de reserva e a parede celular de celulose.
Vantagens da multicelularidade
- Permitiu maior diversidade de formas e funcionalidades possibilitando uma adaptação a diferentes ambientes;
- Os seres de maiores dimensões sobreviveram sem comprometer as trocas com o meio externo, pois surgiram células ou órgãos especializados na realização dessas trocas; este tipo de especialização permitiu a colonização de meios ambientes considerados hostis;
- Aumentou a eficácia na utilização de energia (devido à especialização) com redução da taxa metabólica;
- Passou a existir maior independência em relação ao meio externo, uma vez que os vários órgãos passaram a contribuir para a manutenção do meio interno em condições favoráveis à vida;
- O aumento da dimensão dos seres vivos favoreceu a competição pelo alimento.
EVOLUCIONISMO E FIXISMO
O fixismo era uma teoria que defendia que os seres vivos eram imutáveis ao longo do tempo e que eram independentes quanto à sua origem.
Existem duas correntes de pensamento fixistas o espontaneísmo e o criacionismo.
Espontaneísmo
Teoria defendida principalmente por Aristóteles (séc. IV A.C.).
Explicava que a vida podia surgir por geração espontânea, a partir de matéria inerte, por ação de um "princípio ativo".
Criacionismo
Defende que a origem da vida e a diversidade biológica tem origem divina.
Segundo o criacionismo o mundo vivo apresenta tantas espécies quantas as que saíram da mão de Deus num ato único de Criação. Posteriormente, as espécies mantiveram-se fixas e imutáveis.
Naturalistas como Lineu (séc. XVIII) foram grandes adeptos do Criacionismo.
Para combater as primeiras ideias transformistas, que se baseavam por exemplo no aparecimento de fósseis (evidenciavam que os seres vivos se extinguiam e a existência de seres que não existem atualmente)surge uma explicação fixista e criacionista, o catastrofismo de Cuvier (séc. XVIII). Para este naturalista, durante a história da Terra houve cataclismos, como o dilúvio bíblico, que destruíram a fauna e a flora dessas épocas. Posteriormente dar-se-ia a recolonização dessas regiões por animais e plantas provenientes de outros locais. Estes acontecimentos justificavam as descontinuidades observadas no registo fóssil.
(In: http://www.babelio.com/livres/Vienot-Georges-Cuvier; 09-12-2015)
(In:http://pt.slideshare.net/beaduro/lesson-17-beginning-of-evolurionary-theories, 09-12-2015)
Vídeo de:https://www.reseau-canope.fr/tdc/tous-les-numeros/darwin-et-le-darwinisme/videos/article/cuvier-et-la-catastrophisme.html, 09-12-2015)
Evolucionismo
Século XIX - um século em mudança
- Os astrónomos argumentam que a Terra não é o centro do Universo.
- Newton elabora explicações matemáticas para o movimento dos planetas.
- Os descobrimentos marítimos trouxeram para a Europa grande diversidade de animais e plantas até aí desconhecidos.
- Através dos geólogos Hutton e mais tarde Leyll apareceu o Uniformitarismo, com o princípio das causas atuais e com o gradualismo.
- A existência de lacunas estratigráficas, permitiu justificar a ausência de formas fósseis intermédias.
Lamarckismo
Em 1809, o francês Jean Baptiste Pierre Antoine de Monet, cavaleiro de Lamarck propôs uma teoria para explicar a evolução dos seres vivos.
Segundo Lamarck, uma alteração no meio ambiente provocaria nas espécies necessidade de se modificarem, o que levaria à evolução.
Lamarck baseou a sua teoria em dois princípios fundamentais:
- a lei do uso a desuso - quanto mais uma parte do corpo ou órgão é usada, mais esta se desenvolve; o contrário também se verifica, se certas partes do corpo ou órgãos não são usadas enfraquecem, atrofiam chegando até a desaparecer.
- a lei da herança dos caracteres adquiridos - qualquer animal poderia transmitir aos seus descendentes as novas características que se atrofiavam pelo desuso ou se desenvolviam pelo uso.
Darwinismo
Charles Darwin (1809 - 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao propor uma teoria para explicar como ocorre a evolução das espécie através da seleção natural.
Darwin sempre manifestou um grande interesse pela história natural. Começou por estudar medicina, mas como não o cativava, acabou por estudar Teologia.
Realizou uma viagem de cinco anos a bordo do HMS Beagle
que lhe permitiu obter informação importantíssima para a
construção da teoria da Seleção Natural.
As observações que Darwin fez da natureza ao longo da sua
viagem, desde a grande diversidade de seres vivos, aos
vulcões em erupção, às variações climáticas ao longo
da latitude, aos vestígios fósseis, à fauna
e flora das Galápagos.... levaram-no a construir
a teoria da Seleção Natural.
Escreveu o livro, "A Origem das Espécies" (On the Origin of
Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of
Favoured Races in the Struggle for Life), onde descreveu
a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio
de seleção natural.
Vídeo de:https://www.reseau-canope.fr/tdc/tous-les-numeros/darwin-et-le-darwinisme/videos/article/cuvier-et-la-catastrophisme.html, 09-12-2015)
Alfred Russel Wallace (1823 — 1913) foi um naturalista,
geógrafo, antropólogo e biólogo britânico.
Wallace escreveu um ensaio no qual praticamente definia as
bases da teoria da evolução
e enviou-o a Charles Darwin, com quem mantinha
correspondência, incentivando-o,
deste modo, a publicar a sua obra "A Origem das Espécies".
(In: http://press.princeton.edu/titles/7109.html, 09-12-2015)
Argumentos de Darwin
http://www.evolution-of-life.com/en/observe/video/fiche/darwin-on-the-evolution-trail.html
Dados que levaram Darwin a construir a teoria da seleção natural
Dados da Geologia
Darwin apoiou-se nos dois princípios do geólogo Charles Lyell (1797-1875):
as leis naturais são constantes no tempo e no espaço e o presente é a chave do passado.
Assim, Darwin conclui que tal como acontecia na geologia, também os seres vivos deviam
ter evoluído de forma lenta e gradual.
Durante a sua viagem no Beagle, Darwin observou erupções vulcânicas e diversos fósseis
(alguns de animais marinhos nos Andes, permitindo-lhe deduzir que aquele local já havia
estado submerso, verificando por isso que as mudanças geológicas são lentas e graduais).
Dados da Biogeografia
Durante a sua viagem no Beagle, Darwin visita as ilhas Galápagos.
Neste arquipélago Darwin observou e estudou atenciosamente tentilhões, lagartos e
tartarugas. Reparou então que apesar destes animais possuírem algumas características
diferentes, especializadas para diferentes condições ambientais (água, alimentos, clima,...),
todos eram muito semelhantes entre si. Esta observação permitiu-lhe deduzir que os
animais observados tinham um ancestral comum a partir do qual divergiram e
diferenciaram-se de acordo com o ambiente em que viviam.
Seleção artificial
Darwin foi columbófilo, tendo constatado que através da selecção artificial conseguia
obter, através de cruzamentos programados, ao fim de algumas gerações, as características
desejadas nos pombos. Deste modo, Darwin concluiu que, se ele consegui selecionar
de forma artificial as características pretendidas nos pombos, também a Natureza,
de forma mais lenta, conseguia selecionar os indivíduos melhor adaptados aos diversos
ambientes, chamando-lhe, a selecção natural.
Variabilidade intraespecífica
Darwin apercebeu-se que os indivíduos da mesma espécie aperesentam variações entre eles.
Estas variações vão sendo progressivamente selecionadas de acordo com o meio ambiente.
Crescimento da população humana
Darwin apoiou-se nos estudos de Malthus sobre o crescimento da população humana.
Segundo Malthus, demógrafo e economista, a população humana aumenta de forma mais
rápida (geometricamente) do que a produção de alimentos (aritmeticamente).
Darwin aplicou este estudo para todos os seres vivos, considerando que o crescimento das
populações era exponencial até as condições ambientais assim o permitirem.
Teoria da seleção natural
Como justificar o pescoço comprido das girafas
As ancestrais das girafas, de acordo com o registo fóssil, tinham pescoço mais curto.
Para Darwin havia variações no comprimento do pescoço da população de girafas
ancestrais.
Havia girafas com pescoços mais longos e estas alcançavam o alimento dos ramos
mais altos das árvores. Assim, estas eram mais aptas, pois tinham mais possibilidade
de sobreviver e deixar descendentes, havendo uma reprodução diferencial.
A seleção natural, privilegiando os indivíduos de pescoço mais comprido durante
milhares de gerações, é responsável pelo pescoço longo das girafas atuais.
As girafas de pescoços mais curtos, como não chegavam facilmente ao alimento, foram
progressivamente eliminadas da população.
Simulador de Seleção Natural de insetos
Simulador de seleção natural de coelhos
http://www.youtube.com/watch?v=F-2_XdCcx4g&feature=related
Lamarckismo vs Darwinismo
Argumentos do evolucionismo
Anatómicos
Baseiam-se em estudos de anatomia comparada, que realça as semelhanças e as
diferenças das estruturas anatómicas dos indivíduos.
Órgãos homólogos - apresentam o mesmo plano de organização interna e de
desenvolvimento embrionário, apresentando um ancestral comum.
- formam-se por evolução divergente, ou seja, por adaptação a
ambientes diferentes. Os organismos sofrem pressões seletivas diferentes ao longo
do tempo.
- Exemplo: braço do Homem e membro anterior do cão.
Órgãos análogos - não apresentam qualquer semelhança na organização interna logo
não apresentam ancestral comum.
- formam-se por evolução convergente, ou seja, por adaptação a
ambientes semelhantes. Os organismos sofrem pressões seletivas semelhantes
adquirindo estruturas com a mesma função.
- Exemplo: asas dos insetos e das aves.
Órgãos vestigiais - vestígios de órgãos que já foram desenvolvidos no passado.
- Exemplo: o cóccix humano e os dedos laterais dos cavalos.
Paleontológicos
Baseiam-se na análise e na interpretação de fósseis.
Os fósseis de transição correspondem a fósseis de seres vivos que apresentavam
características de dois ou mais grupos atuais, permitindo assim comprovar a existência
de evolução divergente. Assim sendo, os seres vivos atuais não são independentes
quanto à sua origem.
Exemplos:
Archeopteryx - possuía características de aves (penas e bico) e réptil (cauda e dentes).
Ichthyostega - possuía características de peixes (barbatana dorsal) e vertebrados
terrestres (patas e pulmões).
Pteridospérmicas - eram fetos com sementes.
Exercício de Exame Nacional - 2003 1ªF, 1ªCh, Grupo I
Bioquímicos
Baseiam-se:
- nas reações de hibridação entre moléculas de DNA;
- nas vias metabólicas comuns (ex.: síntese de proteínas, processos respiratórios
e modos de atuação das enzimas);
- na universalidade do código genético e do ATP como energia biológica utilizada
pelas células;
-nas reações sorológicas, em que se comparam as proteínas, através de reações
específicas entre antigenes e anticorpos, por mecanismos de aglutinação.
Citológicos
Argumento que mostra que todos os seres vivos são constituídos pelas mesmas
unidades básicas: as células.
A uniformidade dos processos e mecanismos celulares permitem-nos deduzir que existe
uma unidade evolutiva (ex: as semelhanças entre as estrutura das membranas celulares
e os processos de divisão celular).
A teoria Neodarwinista completa a teoria da seleção natural de Darwin, pois consegue
explicar as causas da variabilidade intraespecífica que Darwin não conseguia explicar.
A variabilidade tem assim duas causas:
- a ocorrência de mutações - são a fonte primária da variabilidade genética; são
responsáveis pela introdução de "novidade genética".
- a recombinação de genes - pode ocorrer durante a meiose, aquando do
crossing-over na profase I e da separação dos cromossomas homólogos na anáfase I;
- pode ocorrer durante a fecundação com a junção de
gâmetas ao acaso.